Este trabalho investiga a desconstrução e reimaginação do conceito de “trabalho sexual”, enfocando o processo de produção de corporalidades na sua relação com a circulação de bens e dinheiro a partir de trabalho de campo realizado com garotos de programa (GPs) desde São Paulo. A proliferação de categorias laterais (pornógrafo, massagista, acompanhante etc.) e a vulnerabilidade evidenciada pela violência estrutural explicitam o processo mediante o qual a forma-profissão emerge performativamente (em contraste, por exemplo, com a forma-amizade). A abordagem proposta, anti-essencialista e interseccional, adota como premissa o fato de que as subjetividades fundamentais da relação prostitucional, GP e cliente, são forjadas a partir do encadeamento sistemático de situações-programa. O programa é visto como uma célula atitudinal mediante a qual tais devires se estabelecem e reproduzem, mobilizando uma rede que envolve instituições, serviços e não-humanos e multiplicando territorialidades.