NÃO-LUGAR LITERÁRIO: O ESPAÇO PROVISÓRIO DA LITERATURA NA BNCC
- Posted
- Server
- SciELO Preprints
- DOI
- 10.1590/scielopreprints.9004
Com o mote de identificar o tratamento dedicado à literatura na Base Nacional Comum Curricular - Ensino Médio, o presente estudo propõe um debate sobre o espaço minguado que o documento reserva à área. Para tanto, nos norteamos pelo conceito de “não-lugar” que, em Augé (2005), corresponde a um ambiente no qual imperam o utilitarismo e a transitoriedade, isto é, um espaço, ao mesmo tempo, lotado e vazio, que enquanto estrutura física existe de fato, mas sem construção identitária, nem valor relacional e histórico, por isso, banal. Circunscrevendo a literatura ao “não-lugar literário”, ao fazer recomendações vazias, antagônicas, inconsistentes e, às vezes, impraticáveis ao campo artístico-literário, a BNCC opera tanto no sentido de esgotar o acesso à literatura em âmbito educacional – já que colabora para o apagamento dessa arte nesse espaço –, como também contribui para, disfarçadamente, direcionar-la ao caminho da utilidade mercadológica e de outros ideais neoliberais, cujo efeito principal é a anulação das potências dessa arte plural. Imbuída de perspectivas intrincadas e vazias de sentidos em um texto insignificante, na nova BNCC, a literatura não somente não logra o relevo de arte como também é (in)oportunamente enfraquecida, impulsionada ao esquecimento e/ou até mesmo a um propósito afastado dela.