As universidades públicas brasileiras, especialmente na última década, estão em processo de diversificação do público estudantil, situação que exige estudos sobre quem são esses estudantes. Este artigo se propõe a analisar trajetórias de estudantes, de uma universidade pública do Sul do país, a partir da posição social, das formas de apropriação da herança familiar, com suas rupturas e ajustes a trajetos-projetos familiares em processos de individuação. Nos perguntamos como os herdeiros relatam a mobilização familiar e individual para a manutenção ou a ascensão em suas posições sociais. A partir de um questionário respondido por 1.463 estudantes de cursos de graduação, classificados em três grupos conforme a renda familiar, foram realizadas entrevistas em profundidade com 10 estudantes do grupo de 202 respondentes pertencentes a famílias com renda mais alta. A análise identificou tanto situações recorrentes, quanto singulares, sendo identificadas inclinações para perceber os desafios do contexto universitário, se posicionar e agir de modo convergente com uma situação de relativo privilégio social e escolar, frente a outros segmentos de renda menor, classificados por meio de enquete. Observa-se que os entrevistados e suas famílias valorizam a escolarização, sendo que o curso superior na universidade pública está inserido em um trajeto-projeto familiar naturalizado. Por outro lado, apresentam elementos de desacomodação em relação a valores e prescrições familiares por meio da busca por experiências que compõem o ambiente da universidade, espaço público heterogêneo, construindo as trajetórias individuais.