O texto objetiva entender os desafios e as perspectivas de jovens de camadas populares sobre a transição para o ensino superior. Baseia-se em um trabalho de campo realizado em Brasília/DF no ano de 2018 que contou com a aplicação de mais de duzentos questionários em cursinhos pré-vestibulares comunitários e entrevistas com vinte vestibulandos. Os resultados indicam a existência de um não lugar de vestibulando caracterizado pela ausência de vínculos entre os indivíduos e as instituições de ensino ou de trabalho. Há uma fricção entre lógicas de ação que se encontram e se combinam contraditoriamente nas falas dos jovens: ora percebe-se o ensino superior como uma vocação a ser reivindicada pelo esforço, ora como uma entre outras oportunidades a se “correr atrás”. De um lado, perspectivas meritocráticas estimulam os jovens a investirem em opções de cursos, carreiras e instituições mais ousados, alegadamente relacionados à sua vocação pessoal; de outro lado, os sucessivos fracassos nas tentativas de transição ou as dificuldades prévias em suas trajetórias escolares os forçam a optarem por caminhos mais pragmáticos, reproduzindo lógicas de “viração” que marcam suas experiências para além do campo educacional. Essa discussão elucida de que forma o processo de expansão respondeu por uma alteração na maneira pela qual o próprio acesso à educação é entendido.